De Luca

Álcool em gel falsificado: UFPR afirma que 80% das amostras analisadas são irregulares

Após perícias realizadas pela Universidade paranaense, as amostras de álcool em gel falsificado NÃO apresentaram o teor de álcool etílico de 68 a 72%, percentual recomendado pela Anvisa. 

Laboratório no Departamento de Química da UFPR, em Curitiba, tem recebido de dez a 15 amostras de álcool gel por semana para análise da qualidade. Na foto, amostra sendo preparada para o exame. Foto: Marcos Solivan/Sucom-UFPR.  

No segundo semestre de 2020, as polícias Civil e Federal apuraram casos de fraudes na indústria de limpeza e higienização com o percentual de 80% de álcool em gel falsificado, após análises gratuitas oferecidas pelo Departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

A ação preventiva serve para alertar os consumidores a conhecerem a procedência e qualidade do produto que estão utilizando contra ação do novo coronavírus.  

Especialistas afirmam que propriedades irregulares, totalmente fora dos padrões exigidos pelas normas sanitárias brasileiras, podem se tornar um problema de saúde pública.  

Infelizmente, esse tipo de conduta se estendeu para outros estados como Minas Gerais e Ceará. Continue lendo o conteúdo para entender melhor os casos da comercialização ilegal de álcool em gel falsificado. 

Os riscos da distribuição ilegal de álcool em gel falsificado 

A pandemia colocou o mundo inteiro em estado de emergência sanitária, fazendo com que a população esgotasse estoques e mais estoque de álcool em gel dos estabelecimentos. Foi então que fornecedores aproveitaram o medo de contaminação do covid-19 para fabricar álcool em gel totalmente ineficazes contra o vírus. 

De acordo com entrevista cedida à CBN de Curitiba, o professor do Departamento de Química da Universidade paranaense, Andersson Barison, fala sobre os resultados obtidos nas perícias das marcas de álcool em gel disponibilizados nos supermercados e farmácias. 

“80% das amostras não possuem o teor de álcool etílico recomendado pela Anvisa, que é de 68 a 72%”, comenta Barison. 

O laboratório da Universidade, ofereceu gratuitamente esse tipo de avaliação para evitar a conduta legal dos fornecedores de álcool em gel falsificado.  

Ao utilizar um álcool em gel falsificado, sem a devida porcentagem de álcool etílico, a pessoa não estará protegida e o vírus não será exterminado. Segundo o Andersson, uma pessoa não consegue saber se aquela marca de álcool é regular ou não.  

“Se você colocar uma quantidade mínima de álcool etílico, ele vai ter o cheiro de álcool, então não tem como o consumidor saber se o álcool é de boa qualidade. Por isso é muito importante que as pessoas solicitem a análise pra gente, que mandem essa amostra”, afirma ele. 

Como identificar a adulteração do álcool? 

                   Foto: Polícia Civil do Paraná.  

O produto é analisado diretamente no RMN (Ressonância Magnética Nuclear), equipamento que identifica a composição do álcool em gel e de outras substâncias mediante análise de propriedades magnéticas. 

O campo magnético de alta intensidade inspeciona as medidas da amostra na máquina, em função das propriedades magnéticas dos núcleos atômicos. Após  

2 minutos, pode-se determinar quais compostos orgânicos estão realmente presentes nas amostras e a quantidade de cada. 

Caroline D’Oca, professora do Departamento de Química da UFPR e coordenadora do laboratório de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da instituição, ressalta que esta é uma das diversas formas de investigar a qualidade do produto e que, a olho nu, a identificação do álcool em gel falsificado é inviável. 

“É necessário que profissionais da Química façam a análise em laboratório. É muito difícil identificar se o produto está inapropriado para uso, pois a aparência, o cheiro e a cor podem ser iguais”, aponta. 

Segundo D’Oca, apenas 20% das amostras que chegam à universidade manifestam as características necessárias para agir contra agentes infecciosos. A professora diz ainda que o teor abaixo ou acima do percentual de 68 a 72%, representa ineficácia. 

“Se o teor de álcool for menor que isso, não elimina o vírus. Se for mais, evapora muito rápido e não há tempo de contato suficiente para eliminá-lo. Além disso, altas concentrações de álcool podem causar ressecamento, fissuras na pele e facilitar a entrada de microrganismos”, esclarece. 

Para onde vão as amostras de álcool irregular? 

Para saber se o álcool em gel utilizado é homologado e autorizado pela Anvisa, a UFPR recebe amostras de todo o Brasil por meio do Correio. O professor explica que basta a pessoa separar meio miligrama de álcool, colocar em um vidro e enviar para a Universidade. 

Quem reside em Curitiba tem a opção de levar a amostra pessoalmente. Mas Andersson afirma que até o momento, a análise do álcool recebido pela população não tem valor judicial. 

“Nós fazemos um relatório e ele não tem valor jurídico, serve apenas para informar o consumidor o teor de álcool etílico que tem na amostra enviada”, comenta Barison. 

Fraudes de álcool em gel na Grande BH, Minas Gerais 

Em dezembro de 2020, a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e apreensão nas sedes de uma empresa suspeita de produzir álcool em gel falsificado em Belo Horizonte e em São José da Lapa, na Grande BH. 

“A disparidade de informações entre as especificações técnicas de rotulagem e o conteúdo do produto o torna inócuo à sua finalidade de prevenção à Covid-19”, informou a polícia. 

De acordo com a PF, se constatada a prática de infração penal, os envolvidos poderão responder pelo crime de falsificação, corrupção e adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, além de estelionato.  

Na hora da compra, confira o rótulo 

Depois de saber de todos os riscos da fraude de álcool em gel, é hora de redobrar a atenção quando for comprar o produto. O meio mais seguro é ler o rótulo minuciosamente para fazer a melhor escolha. 

O Sistema CFQ/CRQs recomenda que o consumidor verifique se há informações sobre o profissional responsável técnico e o número de registro do produto na Anvisa. 

Caso haja dúvida sobre essas informações, o indivíduo pode entrar em contato com o CRQ do seu estado e solicitar ajuda. Assim, a fiscalização do Sistema CFQ/CRQs impede o exercício ilegal da profissão de químico e pune as empresas que não garantem a qualidade do produto.